Os seres humanos possuem o germe do processo resiliente, ou seja, é provido da capacidade de aprender com a experiência e se transformar à partir dela.
Pergunta:
O tratamento psiquiátrico pode ajudar no desenvolvimento da resiliência individual?
Sim. Nós psiquiatras somos tutores da resiliência. Fazemos parte do grupo de cuidadores que, segundo Boris Cyrulnik, promove o desenvolvimento do aprendizado e da Resiliência.
Na relação psiquiatra-paciente como isso acontece?
– no momento da primeira anamnese, já com uma postura acolhedora com o paciente. Há algo de peculiar na forma como o profissional acolhe a pessoa em sofrimento: a demonstração de interesse verdadeiro, a disponibilidade para escuta, não só dos sintomas, mas também da história de vida; a crença que realmente a pessoa tem capacidade de superar o que lhe aflige desde que se decida a fazê-lo;
– durante as consultas proporcionar um ambiente leve, agradável, com toques de bom humor;
– mesmo que o paciente demonstre pouca disponibilidade para a utilização dos medicamentos, não desistir. – Explicar a importância de associar os fármacos com as várias abordagens terapêuticas;
– no final da primeira consulta, olhando diretamente nos olhos do paciente, faço duas perguntas: “O que trouxe você à consulta” e “Por favor me diga, de um a dez, qual sua disponibilidade para se envolver na superação do seu sofrimento e se disponibilizar para a mudança?”
– Durante todo o processo busco explicitar a forma como trabalho, não só utilizando medicamentos, mas, sobretudo co-participando do processo de autotransformação do paciente. Acredito que o tratamento psiquiátrico seja um caminho realizado a dois.
– finalmente, tenho perfeita clareza que olhar nos olhos, escutar com verdadeira atenção e acreditar na capacidade do paciente de se autocurar são ingredientes fundamentais no processo resiliente.
Henriqueta Camarotti, psiquiatra da Clínica Flor da Manhã, criadora do Programa de Desenvolvimento da Consciência Autocurativa