Outro dia observando uma criança brincando, se escondendo atrás da cortina para a mãe não pegá-la, veio em minha mente uma grande sacada. O que ela fez foi se proteger, se refugiar, pelo menos foi isso em que sua ingênua mente acreditou. Ela buscou um refúgio físico naquele momento, mas muitas de nossas escolhas têm essa mesma função e inclusive são feitas de maneira inconsciente. São mecanismos de defesa da nossa mente inerentes à natureza humana com o intuito de amenizar nossos medos e nossas angústias.
Há pessoas que se refugiam em lembranças do passado parecendo que literalmente vivem no passado, outras em ambientes estrategicamente estruturados para propiciar uma sensação de segurança e prazer, outras num relacionamento (quase nunca sadio) onde o cônjuge é eleito o seu “porto seguro”, e outras pessoas num falso self, ou seja, em personagens e papéis construídos para esse fim.
Em princípio não se pode dizer que tais mecanismos são bons ou ruins. Eles em si são apenas instrumentos de defesa. A questão é como e quanto os usamos, e principalmente, quais as consequências desse uso. Trabalhar essa questão é uma das chaves iniciais para nossa transformação. Além de me sentir mais seguro eu também me afasto ou agrido os que me cercam.
Qual o custo e benefício de meu refúgio?⠀
No entanto, mas que tomar consciência e avaliar nossos refúgios, há a necessidade de entender o que nos causa insegurança, medo e angústia a ponto de eventualmente estarmos usando-os de maneira excessiva e prejudicial. Aqui o trabalho é mais profundo. Não é somente avaliar o uso dos instrumentos e sim refletir sobre os motivos que nos levam ao uso dos mesmos. Só nesse nível de profundidade é temos uma concreta oportunidade de empreender uma significativa mudança psíquica.
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Leonardo Fernandes, psicanalista, Clinica Flor da Manhã⠀